Comparando a realidade dos planos de saúde nos Estados
Unidos e aqui no Brasil, verifica-se uma grande diferença
Os planos de saúde
privados brasileiros atravessam um momento particularmente complicado.
Provavelmente, o dano maior é que se transformaram em assunto recorrente,
servindo de vitrine para o feio e o errado que as empresas praticam em nome do
capitalismo.
O curioso é que
muitas das notícias publicadas com viés negativo se forem lidas com atenção,
mostram um cenário bastante diferente. É o caso da informação de que no
primeiro semestre de 2018 foram distribuídas 16 mil ações na Justiça paulista,
a maior do país.
Se levarmos em
conta que o universo atendido pelos planos de saúde privados atinge 47 milhões
de pessoas, que as operadoras autorizam perto de um bilhão e meio de
procedimentos por ano, que boa parte das ações versa sobre reajuste de preço e
que São Paulo deve ter algo próximo da metade dos segurados, só podemos
concluir que 16 mil ações em um semestre, ao contrário do sentido dado pela
notícia, atestam que o sistema funciona.
Todavia, a recente
pancadaria de que são alvo as operadoras tem deixado o bom senso de lado para
entrar no campo do linchamento, com resultados ruins para todos, a começar pelo
Governo, que vê a fila do SUS crescer, passando pelos segurados, que no mínimo
estão inseguros quanto ao futuro, para acabar nas operadoras, que, não
bastassem as ameaças reais, ainda são difamadas no atacado, como se todas
estivessem no mercado para enganar a população.
Esse quadro não é
bom para ninguém, especialmente neste momento, quando, segundo um diretor da
ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) me disse, mais ou menos metade das
operadoras não tem escala para permanecer no mercado. Ou seja, é essencial se
encontrar uma forma de viabilizar a transferência de seus segurados para
empresas saudáveis, sob risco de deixarem de ser atendidos porque seus planos
estão quebrando.
O problema é como
fazer isso, levando em consideração todas as variáveis envolvidas, a começar
pelo subdimensionamento do preço pago por milhares deles, que precisa ser
ajustado no caso da migração para outra operadora.
A lei dos planos de
saúde privados brasileira é um desastre. Se não se fizer nada para modificá-la,
em algum momento não muito distante o sistema entrará em colapso, acabando de
estourar com a saúde pública garantida pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que
não tem dinheiro para custear mais que 35% do total das despesas com saúde no
país. Este é um dado importante. Mais de 60% do total dos recursos investido em
saúde provém dos planos privados, que atendem apenas ¼ da população.
O outro lado da
moeda é o que acontece atualmente nos Estados Unidos. Lá, a ordem de grandeza
dos recursos destinados à saúde atinge espantosos 3,5 trilhões de dólares por
ano. Uma única operadora fatura perto de 200 bilhões de dólares, ou seja, muito
mais do que a totalidade dos recursos públicos e privados investidos no setor
de saúde no Brasil.
O resultado disso é
que, enquanto no Brasil as operadoras de planos de saúde interessadas em saírem
do mercado não encontram compradores, nos Estados Unidos os fundos privados de
investimento estão à caça de empresas que atuem na área da saúde, desde
operadoras de planos até fornecedoras de serviços, como ambulâncias, “home
care”, distribuidoras de insumos para saúde, laboratórios, etc.
A diferença
fundamental entre os cenários, muito mais do que a ordem de grandeza dos
recursos envolvidos, é a forma como o negócio é visto nos dois países. Enquanto
no Brasil medicina não pode ser negócio, ainda que parte das operadoras sejam
sociedades anônimas e os prestadores de serviços paguem imposto de renda, nos
Estados Unidos cada um atua como quiser, com e sem distribuição de lucro,
dependendo do objetivo social. Mas mesmo as operações bancadas por fundações e
outras entidades sem fins lucrativos têm como princípio básico o resultado
positivo, até porque é a única forma de bancarem os investimentos cada vez mais
caros, necessários para sua operação.
Nesta vida é mais
fácil copiar do que criar. É só nos basearmos no que já é feito lá para
melhorarmos o que é mal feito aqui.
Extraído de:
sosconsumidor.com.br - Fonte: Estadão - Por: Antonio Penteado Mendonça
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