Os clientes que foram aos bancos para ter informações
sobre as novas taxas de juros saíram decepcionados. A principal reclamação é
que, para usufruir de percentuais menores anunciados nas propagandas é preciso
cumprir uma série de requisitos
As “pegadinhas” vão
desde a aplicação do juro menor apenas para empréstimos de prazo muito curto
até a exigência de um tempo mínimo de conta no banco.
Em uma agência visitada ontem pelo Globo em
São Paulo, um cliente que não se identificou disse que “não é como está na
propaganda”. Até os gerentes concordaram com o comentário dos correntistas e
alertam que há “muitas pegadinhas” nos novos anúncios.
A primeira instituição a anunciar a redução
dos juros para financiamentos de veículos, crédito consignado e crédito direto
ao consumidor (CDC) foi o Banco do Brasil. Em seguida, foi a vez da Caixa que,
além dos financiamentos para bens diversos, diminuiu as taxas de cheque
especial e cartão de crédito. Pressionados pelo governo, os bancos privados
decidiram seguir o mesmo caminho, com mudanças em linhas como financiamento de
veículos, crédito consignado e CDC. Com exceção do Santander, nenhum privado
baixou os juros do cheque especial e do cartão.
Na maior parte das propagandas, os bancos
publicam a taxa mínima que será praticada numa operação. No entanto, o valor
real é calculado segundo o perfil do cliente. Na Caixa, por exemplo, o panfleto
que divulga os juros menores diz que o cheque especial tem taxa a partir de
1,35% ao mês. Mas o cliente que resolver abrir conta na Caixa para usufruir o
benefício vai obter taxa de 4,45% mensal no limite da conta.
- Os juros menores são para clientes que já
têm relacionamento antigo com o banco — diz a gerente de uma agência na Zona
Sul paulistana, ressaltando que, caso o cliente receba salário pela Caixa, a
taxa do cheque especial pode cair para 3,5% ao mês.
Gerente dá informação errada
No Bradesco, em uma das três agências
visitadas pelo Globo, na Zona Oeste da cidade, o gerente não sabia nada sobre
as novas taxas:
- É possível voltar amanhã? Estamos
esperando o comunicado chegar no sistema para colocarmos as novas taxas em
prática.
A informação dada por ele está incorreta,
segundo a assessoria de imprensa do Bradesco. E para evitar esse tipo de
problema, o banco informa que está reforçando a comunicação com sua rede de
agências. O Bradesco iniciou ontem a aplicação de novas taxas para
financiamento de veículo (a partir de 0,97%); crédito pessoal (queda de 2,66%
para 1,97% ao mês); e CDC Bens (de 3,54% para 2,97% ao mês).
- Mas a taxa de 0,97% ao mês para o
financiamento de veículo só vale para quem dividir o pagamento em quatro vezes
— alertou a gerente de outra agência na Zona Oeste de São Paulo.
Antonio de Oliveira Siqueira, de 44 anos, dono
de um pequeno restaurante na capital paulista, foi à agência do Bradesco
verificar se a taxa do leasing de sua van cairia. Hoje, ele paga 1,89% ao mês.
Na agência, porém, foi informado que não seria contemplado com a redução porque
o leasing já está feito:
- Não recebi nenhuma notícia animadora
aqui. Vou checar no Banco do Brasil, onde também tenho conta.
Para conseguir melhor taxa no financiamento
de veículos no banco estatal, porém, o cliente precisa estar com todas as
informações relativas ao carro, já que não há um valor padrão.
- Não dá para dizer qual é a taxa porque
varia muito de um automóvel para outro — disse a gerente de uma agência do BB
na Zona Oeste.
No BB, os juros para o uso do limite de
crédito no cheque especial passou a variar entre 1,38% e 8,31%. Mas, para ter a
taxa menor, é preciso cumprir alguns requisitos, como ter aplicação no banco e
ser beneficiário do INSS. Na média, o cliente pode conseguir uma taxa de cerca
de 3%, desde que esteja usando mais de 50% do limite e há dois meses. Assim, a
dívida no cheque especial é transformada em um CDC, a ser pago em 24 parcelas.
- O juro do cheque especial não caiu de
verdade. Eles apenas parcelam o que você está devendo com uma taxa menor. Não é
o que eu precisava — retrucou Valter Roberto, corretor de imóveis de 63 anos.
No HSBC, os gerentes informavam as novas
taxas de cheque especial para cada perfil de cliente. A assessoria de imprensa
da instituição, por sua vez, esclarece que o recuo no juro do limite da conta
foi feito em março, quando a taxa básica de juros (Selic) caiu para 9,75% ao
ano.
O HSBC informa, por meio de sua assessoria
de imprensa, que a tabela vigente, a partir do último dia 12, é de taxas de
1,99% a 5,93% ao mês para crédito pessoal; de 0,98% a 2,55%, para financiamento
de veículos; e de 0,99% a 4,70% ao mês para crédito consignado.
No Santander, o gerente de uma agência na
Zona Sul da capital paulista informou que, desde ontem, o juro do cheque
especial caiu. O novo produto tem taxas de cheque especial que variam de 4% a
8% ao mês, mas quanto menos o cliente utilizar seu limite, menor será o
juro.
Conta antiga para ter taxa reduzida
No Itaú Unibanco, um gerente disse que os
juros baixos para empréstimos ficaram restritos à modalidade do consignado,
voltada a aposentados e pensionistas que recebem pelo banco. No caso da linha
de financiamentos para veículos, a taxa reduzida de 0,9% ao mês, segundo ele,
só é válida para clientes com mais de um ano de conta na instituição.
E é preciso ficar atento às taxas por uma
razão simples: o cliente que não obtiver a taxa mais vantajosa oferecida pela
instituição ainda pagará caro para tomar crédito. Uma pesquisa da Anefac,
considerando as taxas de juro mínimas e máximas divulgadas pelos bancos, chegou
a diferenças impressionantes. Quem comprar um carro no valor à vista de R$ 60
mil, em 48 parcelas, pagando juro de 4,23% ao mês (a taxa máxima oferecida pelo
Bradesco), desembolsará R$ 141.144,20 pelo bem. O carro sai por R$ 75.333,39,
se o cliente obtiver a taxa mínima do mesmo banco, de 0,97%. A diferença é de
mais de R$ 65 mil no preço final do bem.
Para justificar tanta diferença entre a
taxa mínima e a máxima, os bancos alegam que precisam avaliar o comprometimento
da renda do cliente, que indica o potencial de inadimplência, o histórico do
relacionamento com a instituição, e o próprio produto oferecido. Num empréstimo
consignado, por exemplo, o risco para o banco de levar um calote é muito menor
do que no rotativo do cartão. Isso porque a parcela do empréstimo é descontada
diretamente na conta do cliente.
Extraído de: IDEC/Notícias - Fonte: O Globo/Notícias
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